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AP10

Métodos e práticas de pesquisa entre ruínas: proliferações multi(in)disciplinares no
ambiente acadêmico.

Etno-grafias. Grafar. Escrever onde? Como? Com quais ritmos, sons, imagens. Letras também. O segundo campo (Stolze Lima). Vamos a campo, compomos visões, perspectivas, olhares. Escutamos narrativas várias, de humanos e não-humanos, paisagens, ruínas. Anotamos, foto-grafamos, imagens e som, intermídias. O corpo capta o ambiente, as histórias e estórias, os conceitos, os sonhos, as formas de existir, a relação com o(s) outro(s), o(s) espaço(s) e o(s) tempo(s).

 

Percebendo a conjuntura do ecossistema político em relação às ciências e tecnologias, pesquisar é resistir diante dos impasses e dificuldades que enfrentamos para propor e compor linguagens que se tornam saberes. Querem tornar ruínas os saberes construídos, porém, mesmo nas ruínas acreditamos que os/as pesquisadores/as possam fazer florescer seus trabalhos, suas pesquisas, suas etnografias e suas inquietações.

 

Pensando nas relações da antropologia contemporânea e visual, o presente ateliê de pesquisa convida pesquisadores e pesquisadoras a trocar saberes, compartilhar técnicas, práticas e métodos do processo criativo - antes, durante e depois da grafia etnográfica. Propomos um ambiente de diálogo e discussões sobre os projetos de pesquisa e etnografias em desenvolvimento, a fim de que se compartilhem as práticas e experiências das mais diversas formas de expressão: da grafia ao áudio e/ou visual, da poesia à teoria acadêmica

 

 

Palavras-chave: Etnografias; multidisciplinaridade; processos criativos; métodos de pesquisa. 

Coordenadores:

Bárbara da Silva de Jesus (Mestrado PPGAS/UFSC)


Ítalo Mongconãnn (Mestrado PPGAS/UFSC)


Ivan Gomes (Mestrado PPGAS/UFSC)

Lista de Resumos Aprovados

Sessão 1 - 09 de outubro de 2019 – 8h30min às 11h30min

A música, a composição, a tra(i)dução, a morte, a performance e as escritas: atravessamentos entre tempos, campos, matéria e afetos

.jogador longe dos fundamentos, como pode querer melhorar. cantador longe do sentimento, não faz o corpo arrepiar. berimbau anda lhe procurando, a capoeira mandou lhe chamar. a música, a roda, a performance, a ancestralidade; e nesse contexto: há tradução possível? entre o primeiro e o segundo campo, a digestão dx pesquisadorx. curadoria dos afetos, das ideias e ideais. reformulação dos testemunhos. escrever: como, o que, pra quem? acreditamos fortemente que o processo criativo pode ser muito bem nutrido por trocas de experiência sobre a composição da pesquisa-performance, e que o silêncio pode parir arranjos sonoros que componham tais diálogos, servindo como trilha sonora - ou fio de Ariadne - para que o coletivo abaixo possa, junto, refletir sobre os sentidos das pesquisas que proliferam em/das ruínas: e até onde, até a quem elas possam atuar, atingir, afetar.

 

Debatedor: Antropólogo, Historiador, Músico e Professor Marcelo da Silva (UFSC)


 

- Luiz Almeida - "'Espetáculo testemunhal' da capoeira: trauma, transfigurações e performance".

 

Resumo: Buscando rotas de encontro, pontos de fuga ou, quem sabe, colisão com o convite proposto pelo ateliê de pesquisa. Compomos uma grafia, capaz de projetar olhares sobre as possibilidades e potências produzidas pela prática de origem negra e afro-diaspórica da Capoeira a partir de seus nativos arquivos, repertórios e roteiros. Em diálogo com as proposições de Diana Taylor, projetamos compreender a Roda de Capoeira enquanto o que chamamos de espetáculo testemunhal . Prática e cena capaz de convidar até ao mais fugaz espectador à condição de testemunha, e consequentemente, à produção de afetações e reflexões que dessa condição derivam. Entendimento embasado na noção de trauma como uma performance de longa duração, imbricamento das memórias da condição diaspórica e de escravização.

A roda de capoeira. Cena típica e originalmente brasileira. Sobrevivência e continuidade de uma memória ambivalente de ancestralidade, glória, sujeição e resistência. Tornada, frente a nossa estruturalmente racista sociedade, a um só passo ruína e estigma. É e fora capaz de produzir, nos seus mais variados momentos, diversos, potentes e efetivos deslocamentos. Esta pesquisa busca destacar e analisar algumas destas transfigurações, inclusive fazendo uso da musicalidade do berimbau de forma a reencena-las, no segundo campo e pessoalmente.

Palavras-chave: Capoeira, Performance, Testemunho



 

- Gustavo Elias - "Transcrição musical e etnografias: por que transcrevem os etnomusicólogos?".

 

Resumo: A visualidade no mundo ocidental enquadra-se no domínio da razão, enquanto o som não se presta à racionalidade. Neste entendimento a partitura, através da transcrição, transporta a música para o âmbito da racionalidade e do pensamento analítico. A transcrição musical vista como fonte de estudo e análise apresenta, no entanto, alguns problemas fundamentais: os símbolos e códigos “estereotipados” da notação musical estão a serviço das sintaxes musicais elaboradas pelo pensamento musical do ocidente, ou da categoria Música Ocidental. Transcrever, no contexto etnográfico, é traduzir: exercício de sintetizar, através de símbolos e códigos “internos” da escrita musical, uma música que compartilha outros códigos, “externos”. Ao percorrer o itinerário da transcrição o analista/tradutor promove o embate “êmico x ético”, a fricção entre as categorias do seu universo simbólico e um outro universo. Todavia deve ser tratada como uma ferramenta para levantar questões e não como um objetivo final. A etnomusicologia como uma disciplina musical, ao mesmo tempo que busca romper, é herdeira de uma certa compreensão ocidental da história e teoria musical. Uma tradição em que a partitura ocupa lugar de destaque. O presente trabalho pretende refletir sobre a transcrição musical nas produções etnográficas. Em que contexto são utilizadas pelos antropólogos? O que representam sob o ponto de vista teórico/metodológico? Quais suas implicações na escrita etnográfica? 

Palavras-chave: etnografias – transcrição musical – etnomusicologia


 

- Rogério Ferrari - "A universidade e o círculo fechado: sobre o erro da razão na etnografia".

 

Resumo: Deve anteceder o ato de escrever as perguntas para quê? e para quem? Esclarecer tais questões significa saber o propósito do texto, pois este não pode prescindir do objetivo e compromisso de provocar uma reflexão cujo alcance possa transcender os muros da Academia. O pensamento crítico parece não haver encontrado ainda seu lugar organicamente prático. Este texto é parte da reflexão que apresento no meu trabalho de dissertação sobre os ciganos na Bahia, defendida no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal da Bahia, e também atualmente no processo de realização do meu trabalho campo de doutorado, com os Guarani Mbya no entorno da tríplice fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina). Aborda a necessidade de problematizar a ética e a coerência das epistemologias do Sul quando essas se restringem ao âmbito do discurso e do texto. 

Palavras-chave: Etnografia; pensamento crítico; epistemologias e práticas


 

- Helenira Souza & Guilherme Chêrne Neto - "O final é sempre o fim? Um debate sobre concepções acerca da(s) terminalidade(s)".

 

Resumo: Diante da proposta de pensar a ruína a partir da visão de corpos com os sentidos a pleno vapor, propomos pensar os corpos em ruínas e suas últimas faíscas, de forma a buscar contribuições para nossa sobrevivência enquanto espécie. O que as pessoas diante da terminalidade aprenderam sobre si? Até que ponto (bio)política dos corpos (RUPP, 1992) nos prepara para a nossa própria ruína? Propomos articular aproximações e distanciamentos possíveis de serem construídos, ou imagináveis, entre ideias sobre o fim do mundo individual e do coletivo (POMPA, 1998; DANOWSKI & VIVEIROS DE

CASTRO, 2014; GAWANDE, 2018). Gawande (2018) se depara com a realidade da inevitabilidade da morte, da falência dos corpos que, à revelia da medicina, ocorre. Já para Pompa (1998), ao analisar as tradições dos estudos religiosos no meio rural brasileiro, a forma como esses grupos encaram o Tempo e o Fim é caracterizada pela finitude daquele. Abordaremos a temática em defesa de experimentações teóricas, tais como a etnobiografia, em uma exploração de suas potências e da própria Antropologia.

Palavras-chaves: Fim. Terminalidade(s). Antropologia.


 

- Camila Durães Zerbinatri - "Costuras de vida, arte, corpo e pesquisa no limiar das artetnografias de uma pesquisa encarnada interdisciplinar".

 

Resumo: Tanta coisa para escrever, refletir, compor, expressar, e me pergunto: como? Reencontro anotações dos diários de campo dessas artetnografias (LYRA: 2014, 2015, 2017). Na busca por tramados possíveis na senda da pesquisa interdisciplinar entre ciências humanas, música/arte e gênero/história da mulheres, a partir de costuras entre meus diferentes lugares/ saberes e fazeres de pesquisadora, educadora e violoncelista –(intérprete/ performer/ atuante/ improvisadora), busco respostas para questões acadêmicas, científicas e artísticas que se colocam, por exemplo, como trilhar os caminhos cruzados entre uma “escrita de outras” (compositoras brasileiras que escreveram para cello solo) e uma “escrita de si”? Interessa pensar, com foco na audibilização, escuta, memória e história de compositoras e criadoras brasileiras, o lugar da programação de repertórios e de intérpretes/ performers/ atuantes no campo da música brasileira contemporânea/ nova/ atual na circulação do campo. É também na esteira dessa forma de olhar, escutar e pensar o campo que vêm a proposição de fazer essa pesquisa desde também o próprio lugar híbrido, em escolhas e também posicionamentos que buscam reconhecer, escutar e não negar nem desqualificar a carne, a pele, os ossos, o corpo, os movimentos do corpo que faz essa pesquisa encarnada e incorporada (MANFRINI e CIMA: 2016), (MAGALHÃES: 2017), (MEEHAN: 2016), (MEIRA: 2017), (BORGES: 2013), (ANZALDÚA: 2000, 2005, 2009), (BUTLER: 2015).




 

Sessão 2 - 10 de outubro de 2019 – 8h30min às 11h30min

 Urbano ou rural, asfalto-matagal, centro / marginal, fronteiras a se borrar: toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar.
 

.pesquisa que se faz com o corpo - em movimento, sentado, andando, sentindo: nunca estático; corpo que se coloca no ambiente, que ouve e escuta, vê mas também sente frio, medo, calafrio, sua e se diverte; o ambiente afeta o pesquisador e é afetado de volta: pelos olhares, percepções, descrições; falar em urbano, lavoura, cidade, capão, centro, manguezal, prédio, terreno: baldio em especulação, - categorias cartesianas que servem bem ao Estado mas limitam a percepção daquele corpo: viva Leminski e o Catatau!; Florianópolis não cabe dentro da escola de Chicago: extrapolAÇÃO de paisagens mais que humanas: multiespécie é parente próximo do multinaturalismo; ando e estou no manguezal, nado e estou no costão (olha quanto peixe espada brilhando na noite escura!), pedalo e estou no submundo do subcentro sendo sufocada pela cavalaria policial ou pelo machismo que assedia e sufoca como a fumaça das SUV e o gás de pimenta; é preciso embaralhar as percepções e afetos: é preciso sentipensar os ambientes, mergulhar nas paisagens e pensar junto com todas as cabeças - humanas e não-humanas: da antropologia à biologia, passando pela arquitetura e as artes, para chegar em uma forma de saber que possa pintar quadros nas cinco ou mais dimensões as quais estamos envolvidas; por essas e outras a mesa que segue compõem percepções diversas sobre os ambientes, bem como formas em que o corpo se insere, buscando diálogos fractais que possam fazer soar os muitos sons ao redor.

 

Debatedora: Artista Visual e Professora Nara Milioli (UDESC)



 

- Priscila dos Anjos - "Tem uma caixa preta e branca no meio da Alfândega: O centro de Florianópolis em quatro tempos".

 

Resumo:Ajusto o foco do olhar. Ando e vejo (SILVA, 2009). A memória aciona e confronta meu corpo nas ruas da cidade de Florianópolis. Encontro um percurso: uma caixa preta e branca no meio da Alfândega da cidade. Este trajeto circular, onde sempre me encontro, não parece ter fim nem início. E é marcado por interações com outros distintos percursos e outras afetações. Por meio deste movimento etnográfico pelo centro anoto e fotografo. Também organizo e assim apresento em palavras, formulações, e diálogos uma narrativa em quatro tempos. 

Palavras Chave: Etnografia, percursos, narrativa.

 

- Ana Lídia Oliveira - Aproximação entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e os Sistemas Tradicionais de Produção de Erva-Mate

 

Resumo: O trabalho trata principalmente da aproximação entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e os Sistemas Tradicionais de Produção de Erva-Mate, ambos localizados na região Sul do Brasil. Usa a erva-mate como ponto de partida, debruçando-se sobre diversos temas que ela reúne em torno de si. Busca, assim, descrever desde o seu cultivo e processamento até as influências do mercado consumidor e da pesquisa científica sobre esse produto. Usa como referência para isso o material etnográfico coletado durante a participação de reuniões e seminários sobre a temática, bem como as recordações de entrevistas e conversas informais. Interessa-se, simultaneamente, por agricultura, ciência e política. Buscando olhar diretamente para os encontros, analisa as relações travadas entre pesquisadores, agricultores e gestores quando reunidos em um coletivo. Atento aos diversos agenciamentos tenta decodificar dialetos, discursos e falas, visualizando como são forjadas conjuntamente as noções de tradição e agroecologia. 

Palavras-chave: Antropologia da Ciência; Agroecologia; Sistemas Tradicionais de Produção de Erva-mate


 

- Yves Seraphim - "A fumicultura através dos pés: notas de um etnógrafo-metrônomo".

 

Resumo:Este trabalho consiste em uma experimentação na prática etnográfica com fins de aprender a respeito do ritmo , enquanto conceito nativo e analítico, na pesquisa da fumicultura, ou como a chamam, da luta do fumo no Alto Vale do Itajaí (SC). Para tal, pretende-se, por um lado, seguir a sugestão de Henri Lefebrve, proponente da ritmanálise, fazendo assim do pesquisador ritmanalista e de seu corpo um metrônomo sensível às oscilações das atividades práticas em campo. É, então, através dos equívocos vivenciados pelo etnógrafo engajado nos trabalhos da roça que se conhece a socialidade constituinte do ritmo da luta . Por outro lado, mas no mesmo esforço, trata-se de seguir a aposta ingoldiana no estudo das relações que os pés - preteridos por uma antropologia técnica eminentemente manual - dos(as) fumicultores(as) desenvolvem na roça em meio a práticas particulares e ambientes variáveis. Dessa maneira o engajamento de um etnógrafo-metrônomo reexamina efetivamente a pé , a relação entre empresas fumageiras e seus integrados, com a atenção voltada para como a acumulação de capital se faz possível pelos modos com que pés habilidosos andam sobre, ou melhor, com roças de fumo.

Palavras-chave: Fumicultura. metrônomo. pés


 

- Joanna Munhoz Sevaio - "Sob os embalos da Cidade Baixa: caminhos e obstáculos dos fazeres-etnográficos no/de um bairro".

 

Resumo:Nas dimensões prático-narrativas do bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre/RS, confrontam-se posicionamentos de moradores e de frequentadores da cena noturna do lugar, de  estabelecidos e outsiders (ELIAS; SCOTSON, 1994). O Estado, por sua vez, algumas vezes tem atuado no sentido de controlar as práticas cotidianas nos e dos lugares do bairro, seja através da presença ostensiva de viaturas policiais ou de leis que regulamentam o horário de funcionamento dos estabelecimentos. Em minha pesquisa de dissertação venho explorando o que dizem e o que fazem esses praticantes ordinários (CERTEAU, 2012) da Cidade Baixa, com o intuito de pensar sobre os arranjos de significados da cidade que são marcados por disputas. Especificamente neste trabalho, teço algumas reflexões sobre as táticas de pesquisa que se tramam sob o embalo de uma cidade-praticada que é pulsante. Caminhar, olhar, participar, vibrar, escrever, estar lá, foto-grafar são fazeres empreendidos por mim na construção de uma mirada etnográfica sobre a “CB”. Nesse sentido, a própria pesquisa é uma experiência que se constrói no cotidiano, é artesanía e processo. As intromissões que meu corpo de mulher-antropóloga trazem ao andamento de meus fazeres-etnográficos, por exemplo, são um ponto bastante emblemático que geram constantes inflexões, sobretudo em se tratando da noite. Assim sendo, meu objetivo neste texto é compartilhar tais processos e os questionamentos e desafios engendrados a partir deles. 

Palavras-chave: Cidade; Cotidiano; Etnografia.


 

Sessão 3 - 11 de outubro de 2019 – 8h30min às 11h30min

 Pesquisado[R]: desterritorialização epistêmica
 

.pode o pesquisado pesquisar; assim como pode a língua falar - ela que antes era mero instrumento do aparelho digestório, hoje fala, canta, narra; Deleuze & Guattari recomendaram: desterritorializar a linguagem. são diferentes perspectivas, muitas realidades, cosmovisões. percepções e representações. do outro e de mim. por isso tomar o pesquisado como pesquisador é, seguindo este raciocínio, desterritorializar as epistemes da Antropologia; o conjunto de reflexões apresentados para as discussões desta mesa evidencia o caminhar nesta direção, em que antropólogas(os) buscam uma interação com os interlocutores que problematizam hierarquias em campo e na produção da pesquisa, formas possíveis de transformação em meio a ruínas e de construção de conhecimento.

 

Debatedora: Antropóloga e Professora Antonella Tassinari (UFSC)


 

Compõem a mesa:

 

- Aline Azevedo & Cauê Krüger - "Olhares fora-dentro: visões de si e da educação por estudantes de ensino médio de São José dos Pinhais".

 

Resumo:A antropologia visual, quando passou a se dedicar à investigação dos códigos visuais que configuram a rede de significados que orienta comportamentos e auxilia na construção de identidades, foi integrada a fotoetnografia. Posteriormente, a produção de imagens passou a ser feita também como elemento de diálogo e colaboração entre os participantes da pesquisa, a antropologia compartilhada. Este estudo busca associar a prática da fotoetnografia e a antropologia compartilhada a uma antropologia da educação, através da pesquisa-ação e observação participante, realizada por meio de uma oficina de fotografia numa escola da rede pública de ensino em São José dos Pinhais, com estudantes em seu contraturno escolar. Pretendendo avaliar as percepções, valores e comportamentos no interior da instituição investigada, e perceber elementos que um grupo de alunos mobiliza para apresentar suas visões de si mesmos e da escola, através da fotografia e a pesquisa etnográfica a ela associada, as imagens por eles construídas e a análise interpretativa das produções, se apresentam como resultados deste trabalho. Nas construções fotográficas e narrativas dos estudantes ficaram evidentes representações de problemáticas da comunidade, olhares ambíguos sobre o ambiente escolar, entre outras percepções que fogem de pré-noções sobre as juventudes. A escola se mostrou um espaço privilegiado para a pesquisa etnográfica, dotado de relevantes dados a respeito das juventudes e suas representações.


 

- Sérgio Fernandez - "Uma antropologia da práxis: análise e reflexões sobre usos e destinos do conhecimento".

 

Resumo:Este trabalho tenta interrogar-se pelos usos e destinos do conhecimento. Como nossas teorias, conceitos e pesquisas conseguem se relacionar com a população além da academia. Para isso, esta pesquisa apresenta um trabalho de campo realizado com profissionais da chamada antropologia aplicada e acadêmica, ao mesmo tempo em que realiza um desenvolvimento da teoria antropológica e sua relação com a política global.

 

Partindo da hipótese de que a antropologia e seus profissionais participam como atores políticos, tanto do campo aplicado quanto das academias, este trabalho reflete sobre a produção de conhecimento, a práxis antropológica e a transformação social. Entendo que tanto o conceito de cultura quanto os outros, que fazem parte da teoria e da história da antropologia, são utilizados e constituem a agenda de instituições, organizações internacionais e estão instalados no senso comum via mídia. Em diálogo com a antropologia acadêmica e a antropologia aplicada, e relacionando os dois modos de produzir conhecimento, proponho problematizar a práxis no sentido marxista de ciência dedicada à transformação. Este debate é abordado neste trabalho, refletindo sobre para quem, para quê e por que continuar fazendo antropologia.

Palavras chave: Antropologia-práxis-transformação


 

- Gabriela Frantz - "Aprendendo com o campo: horizontalidade na pesquisa etnográfica com crianças pequenas na escola".

 

Resumo:O presente estudo envolve as peculiaridades da experiência etnográfica com crianças pequenas em espaço escolar, trata-se de relatos de um estudo antropológico realizado de forma horizontal com crianças pequenas na escola, visando compreender o universo das crianças a partir de suas próprias perspectivas de mundo. Amparado nas construções teóricas de William Corsaro que considera a criança como um ser social ativo, produtor e reprodutor cultural e seguindo a proposta de Clarice Cohn na defesa de uma pesquisa antropológica que rompe com o referencial adultocêntrico, este estudo segue também, com apreço, às contribuições teóricas da percepção de Tim Ingold. Este estudo contempla as etapas da pequisa etnográfica: as dissonâncias entre o planejamento e a experiência em campo, entre as adversidades e surpresas do trabalho de campo e como novos caminhos epistêmicos são contruídos durante a trajetória etnográfica e que se desenvolvem no decorrer da pesquisa. Seguindo as diretrizes de (re) conhecimento da criança como sujeito sócio-cultural ativo, a abordagem etnográfica aplicada de forma horizontal, na qual o pesquisador adota posição equiparada ao olhar da criança, representa a possibilidade de uma etnografia próxima e profunda, que ultrapassa a categoria métodológica, na qualidade de instrumento de compreensão do universo simbólico da criança e suas singularidades sócio-culturais. Apresento neste artigo um diálogo com teóricos contemporâneos nos estudos da criança, especialmente a teoria da reprodução interpretativa de William Corsaro e a perspectiva antropológica de Clarice Cohn em sobreposição às percepções que se afloraram na experiência etnográfica com crianças pequenas na escola. 

PALAVRAS-CHAVE: Etnografia, Antropologia da Criança, Pesquisa com Crianças


 

- Mônica Garcia - "Da academia para a intervenção. O que sentimos no campo?".

 

Resumo:Este trabalho faz do meu TCC em Antropologia Social. Com a minha participação na Associação Civil “África e sua diáspora”, tentei intervir, no campo da antropologia aplicada, em assuntos que colocam a questão da diáspora africana e a afro descendência na Argentina.  A proposta é poder fornecer um quadro de referência que ajude a refletir sobre a aplicação da antropologia no contexto da realidade social em que coabitamos pesquisadores e os sujeitos com os quais realizamos nosso trabalho profissional. Deste ponto de vista, tentarei mostrar como foi o processo durante meu trabalho de campo, minhas propostas, intervenções e a relação entre a teoria antropológica e suas possíveis contribuições para problemas particulares e universais. Da mesma forma, mostrarei como é possível transformar os dilemas, tensões e preocupações que surgiram no campo, em um dispositivo de conhecimento. Assim, a partir deste trabalho, podem ser elaboradas inúmeras arestas e questões que contribuem para o pensamento da antropologia aplicada como um campo para intervir em problemas concretos e, ao mesmo tempo, como um espaço para a produção conceitual e teórica.

Palavras chaves: Antropologia aplicada-afrodescendentes-intervenção 

 

- Mágda Mascarello - "Os desafios do TEMPO na produção antropológica. Uma releitura de 'O Barracão e a Rua'".

 

Resumo:“O Barracão e a Rua” é título de minha dissertação que traz um registro analítico de experiências e práticas políticas de catadores de materiais recicláveis da Associação Mutirão em Curitiba, construído a partir de minha trajetória como voluntaria católica, militante do movimento popular e etnógrafa, refletida de forma diacrônica, levando em conta os oito anos de convivência. A obra não teve uma boa receptividade por parte de meus interlocutores e foi motivo de uma controvérsia que resultou na impossibilidade de continuidade da pesquisa. O conflito se instaurou sobre a diferença quanto à interpretação do passado e colocou as questões em torno do TEMPO no centro do desencontro. Na esteira do debate sobre o lugar da História na antropologia, este artigo tem por objetivo levar a sério a reclamação dos catadores e propor uma revisão da maneira como o Tempo aparece no trabalho. Apresentarei o lugar fundamental que a história do Mutirão ocupa na etnografia e a maneira como ela foi reconstruída por meio da narrativa de meus interlocutores. Rastreando as experiências políticas dos catadores, percebemos como a história é como argumento político fundamental e rapidamente chegamos ao que foi chamado no trabalho de TEMPO e LUGAR do Mutirão. Em seguida apresentarei uma reflexão sobre os problemas da escrita, salientando de que maneira a linguagem do presente etnográfico dissolveu uma diferença temporal que, no contexto das disputas em torno da política pública municipal, precisava mantida.

Palavras-chaves: escrita etnográfica; Tempo; Controvérsias


 

- Thainan Piuco - Educação; Invenção; Devir.


Resumo:O cenário é este: uma escola pública de difícil acesso, alunos diagnosticados com autismo e outras deficiências, e um professor-pesquisador em de-formação. Caos e criação. Delírios e devires. E encontros entre. Entre o normal e o estranho? Entre o comum e o atípico? Entre nosso mundo versus o deles? Não! Ao invés de versus, versos. Composições da ordem do singular. Outros versamentos que dizem de um olhar poético, uma escrita inventiva e uma postura ética-estética-política. Poiética Devir. Ao invés de medo, quando da aparição de alteridades, um SI-ver, produto e produção de diferenças. Nesse multiverso, entram em cena: um diário de campo cunhado de caderno docente que vai-e-vem por entre caminhos autísticos; mãos que escrevem poemas e inscrevem sentidos; olhos que fotografam movimentos de repetição e desvio; um corpo todo cartografando linhas de fuga, compondo a partir de errâncias e extra-vagâncias de uma outridade des/re/territorializante. Criação metodológica. Docência inventiva. Tear de/em si, como uma aranha. Na chamada educação inclusiva, ser docente é acompanhar e ser companhia. Mas, sobretudo, aliar-se a devires minoritários, re/de/compor com eles e dar passagem às forças que pedem por vida, que querem multiplicá-la. E viver é inventar cri-ações, infindamente.

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